No último dia 27 de março, por ocasião da celebração extraordinária de oração pela pandemia do COVID-19, o Papa Francisco concedeu a bênção Urbi et Orbi, a qual esteve ligada a possibilidade de receber a indulgência plenária.
Durante a leitura do Evangelho de São Marcos (Mc 4, 35 - 41), com a praça de São Pedro vazia, silenciosa, aquelas palavras faziam eco em um lugar bem distinto: o coração dos que escutavam. Elas atingiram profundamente a todos que, como os discípulos, clamávamos por Jesus em busca de calmaria durante a inesperada tempestade: “Mestre, não te importas que pereçamos?”[1].
Acontece que, também nós, em nossos dias, enfrentamos a “inesperada tempestade”, a tempestade que, como nos ensina o Papa Francisco, “desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades”[2]. A tempestade nos assusta porque pensamos que “continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”[3].
O Senhor nos chama, como nos recorda o Santo Padre, “a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. (...) Tempo de separar o que é necessário daquilo que não o é.”[4] É neste tempo que enxergamos, porque caem as “maquiagens dos estereótipos com que mascaramos o nosso ‘eu’ sempre preocupado com a própria imagem”[5], aquelas figuras que infundem a esperança com paciência e responsabilidade. “Quantos pais, mães, avôs e avós, professores, mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração!”[6]
Do coração da Igreja, a “barca de Pedro”, o Santo Padre nos convida a aproveitar esses tempos de crise, essas horas em que tudo parece naufragar, para convidar o Senhor a subir no barco da nossa vida. Pedir a Jesus que “olhe para nossa dolorosa condição, conforte os seus filhos”[7] e serene as nossas tempestades.
Naquela praça, sob a chuva, o Santo Padre tinha diante dos olhos o crucifixo milagroso da basílica de São Marcelo, aos pés do qual trazia o sofrimento de tantos filhos seus que sofrem com a pandemia. E, a fim de romper o silêncio ensurdecedor da apatia moderna, bradou a contradição da Cruz ao mundo dessacralizado: “Com Deus, a vida nunca morre!”.
Prof. Josimar de S. Rodrigues Junior
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